Acorda, Alice! O Canadá não é o país das maravilhas!
Uma discussão em um grupo de Facebook que participo me levou a escrever este texto. Houve um debate intenso a respeito de todos os problemas do Canadá, com comentários dizendo que aqui não é aquela “maravilha” toda que os blogs e youtubers por aí contam. Que só se fala do lado positivo e ninguém conta dos problemas que as pessoas enfrentam aqui.
Concordo parcialmente com esta afirmação. Há, sim, posts e vídeos que falam dos pontos negativos de morar aqui. Dias destes, eu mesma publiquei um post falando do “glamour” da vida do imigrante. E aqui mesmo no Canada Agora, há outros posts e podcasts falando sobre o assunto. Um dos podcasts que eu ouvi antes de vir foi falando justamente do lado escuro da imigração. Como já disse aqui antes, eu busquei muitas informações sobre o lado ruim de ser um expatriado antes de vir para o Canadá. Não vou dizer que há uma enxurrada de textos sobre o assunto, mas há sim, bastante informação disponível. Basta digitar no Google “desvantagens de morar no Canadá” ou “desvantagens de morar no exterior” e você vai encontrar muitos posts falando sobre isso.
No debate em questão (infelizmente não tenho como compartilhar o link aqui), foram apontados alguns defeitos do Canadá – mais especificamente de Toronto, cidade onde moro atualmente. Os pontos negativos apontados são coisas que escuto com certa frequência tanto de pessoas que já moraram em outros países antes de vir pra cá, quanto de pessoas que saíram do Brasil e vieram direto morar aqui. Por isso, acho que vale fazer algumas ponderações a respeito, pois pode ser que mais pessoas que tenham intenção de vir morar no Canadá acabem passando pelo mesmo tipo de coisa. Vamos a eles:
O ensino no College é fraco
Acho que as pessoas criam expectativas muito grande em relação aos Colleges no Canadá. O College é um ensino pós-secundário, voltado para alunos que acabaram de sair do High School. Justamente por isso, uma pessoa que já fez um curso superior no Brasil pode achar o College fraco. Eu mesma acho o nível do meu curso bem tranquilo. Acabo sendo sufocada pela quantidade imensa de trabalhos e provas, mas não posso dizer que o conteúdo é complexo e difícil de entender. O nível de dificuldade do meu curso não é nada que se possa comparar ao curso de Engenharia Civil que fiz no Brasil, na UFPR. E nem poderia, pois são coisas totalmente diferentes. No entanto, vale ressaltar que isso também não é regra. Conheço pessoas que acham o curso que fazem aqui bastante difícil – mesmo já tendo formação superior no Brasil; mesmo estudando na mesma área de sua primeira formação. Ou seja: cada caso é um caso. Depende do curso que você escolher. Depende também da pessoa que você é, de como você vai assimilar o conhecimento daqui. Tudo isso vai afetar sua percepção do College e só você vai poder dizer se o seu curso é fácil ou difícil.
Estrutura voltada para Especialização
Outro ponto a considerar: a estrutura de ensino no Canadá é voltada mais para a “especialização”, o que significa que você não vai ficar aprendendo aqui um monte de coisas que não vai usar posteriormente – coisa que acontece muito nos nossos cursos de Engenharia do Brasil. Percebo que essa diferença de filosofia faz com que muitas pessoas classifiquem o ensino no Canadá (não somente o dos Colleges, mas também das escolas primária e secundária) como “fraco”. Eu já acho o contrário: acho que um ensino que foca no que é realmente necessário é mais eficiente.
Há muitos estudantes internacionais que não querem nada com nada
Um outro fator apontado como “problema” do Canadá é que há muito alunos internacionais que não se interessam por nada, não levam o curso a sério, não se dedicam. Mas isso não é culpa do College ou do governo canadense, é? Se alguém de fora vem estudar aqui, se a família da pessoa tem dinheiro para bancar seus estudos e moradia e se esta pessoa não se dedica, o que é que o College e o governo podem fazer a respeito?
No meu curso isso também acontece. Há vários alunos que não se dedicam. Mas há também muita gente séria e interessada. Então, eu diria que não podemos colocar isso como uma regra. Como tudo nesta vida, esta é mais uma coisa que não dá para generalizar. Há pessoas dedicadas e pessoas desinteressadas em todos os lugares do mundo.
O College é bagunçado
Tomar como base uma única experiência para opinar sobre a estrutura dos Colleges em geral é meio complicado. Há Colleges ruins, assim como há Colleges bons. Há, também, as expectativas e percepções de cada um.
O College mencionado como “bagunçado” foi o Centennial, aqui em Toronto. Conheço outras pessoas que estudam lá e reclamam do fato de haver muitos alunos internacionais que não sabem nada e nem querem aprender. No entanto, já vi pessoas falando que o atendimento é bom, que a estrutura do College funciona bem. Vi pessoas falarem que os professores são bons, assim como vi outros falando que os professores não são lá estas coisas. Vi também relatos de pessoas que estudaram em mais de um College aqui em Toronto (Humber, George Brown e Seneca). Destas pessoas, ouvi que estes Colleges têm melhores cursos, melhores professores e melhor estrutura que o Centennial.
No entanto, só como critério de comparação: eu estudo no Seneca e já vi muitas pessoas reclamando de lá. Então, no final das contas, isto é tudo muito subjetivo. Alguns podem achar o Centennial melhor que o Seneca e outros podem achar pior.
De qualquer maneira, acho que a gente não pode generalizar e simplesmente falar: “College no Canadá é ruim, fraco e desorganizado” tomando como base uma única experiência pessoal. Isso não é assim em todos os lugares e isso não é igual para todo mundo.
Estudante internacional não têm direitos e só serve para colocar dinheiro no país
Eu discordo da afirmação de que estudante internacional não tem direitos. Os estudantes internacionais têm direito sim e eles são respeitados. No entanto, se alguém acabou de chegar aqui, não dá para ir logo de cara passando a ter os mesmos direitos que um residente permanente. Depois de um certo período que o estudante estiver morando aqui, e tiver alguns outros vínculos com o país, esta pessoa poderá, inclusive, aplicar para receber benefícios do governo. Eu fiz meu primeiro Income Tax Return tão logo foi possível e já recebi do governo alguns benefícios. Sei que posso aplicar também para receber o Canada Child Benefit assim que eu completar 18 meses de residência no país.
Em relação ao sistema público de saúde: o critério para que se tenha direito de usar o sistema público de saúde é que a pessoa esteja trabalhando full time em contratos com duração superior a 6 meses. Com 3 meses de trabalho, a pessoa já pode pedir uma carta do empregador e aplicar para o sistema público de saúde. No entanto, estudante full time não pode trabalhar mais que 20h semanais e, por isso, acaba não tendo direito ao sistema público de saúde. Mas quando é um casal que vem para a província de Ontario, o cônjuge que for trabalhar full time pode aplicar para a saúde pública e incluir o estudante como seu dependente.
Por fim, muitos criticam o fato de o valor do College ser muito maior para estudantes internacionais. No entanto, há que se pensar que os pais de um estudante doméstico pagaram impostos durante anos para que os filhos possam fazer seu curso pós-secundário. Além disso, quando você, estudante internacional, fizer seu Income Tax Return, declarando os pagamentos do College, você receberá restituição referente a este pagamento.
No fim das contas, percebo que há muita desinformação a respeito dos direitos dos estudantes internacionais. Eu mesma não sabia de muita coisa a que eu tinha direito. Só depois de conversar com pessoas, ler e pesquisar muito a respeito, é que fui tomar conhecimento de tudo isso.
O povo é muito mal-educado e não corresponde ao “mito” da educação do povo canadense.
Falar da educação do povo canadense tendo Toronto como parâmetro não é algo muito justo, ao meu ver. Toronto é a cidade mais multicultural do mundo. Aqui são falados mais de 140 idiomas e dialetos e aproximadamente 50% da população é de imigrantes. Fora isso, a GTHA (Greater Toronto and Hamilton Area) é uma região metropolitana gigantesca, com quase 7 milhões de habitantes. Com estes dados, como falar em “educação do povo canadense” em um ambiente povoado por tão diferentes nacionalidades?
Eu tive esta mesma impressão “ruim” quando cheguei aqui. Muito se fala do extremely polite canadian, aquele que pede desculpas quando você esbarra nele. No entanto, numa cidade fervilhante, onde o transporte público é lotado e o trânsito tem engarrafamento nos horários de rush, é realmente difícil que alguém fique gentilmente segurando a porta esperando você passar. Eu, ingenuamente, esperava encontrar este cenário de pessoas extremanente cordiais e com sorriso nos lábios o tempo todo quando chegasse aqui. No entanto, não foi isso que encontrei e tive que ajustar minhas expectativas para algo mais de acordo com a realidade. Hoje, quando alguém me responde com cara fechada a alguma pergunta, ou quando eu entro no ônibus e digo “obrigada” para o motorista que nem olha na minha cara, penso simplesmente que aquele é o jeito dele de ser. O fato de ele não me responder não quer dizer que ele não seja educado: quer dizer apenas que, na cultura dele, ele não têm o hábito de abrir um sorriso para cada um que lhe aparece no caminho. É importante lembrar-se disso: se você está em um lugar com pessoas de tantas culturas, o que é ser “educado” no seu conceito, pode não ser no do outro.
Vale ressaltar, no entanto, que amigos que moram em cidades menores ou em outras províncias, relatam conhecer este canadense extremamente cordial. Mas, mesmo assim, diminua suas expectativas em relação a isso antes de vir para cá. Assim, você tem mais chance de se surpreender positivamente em vez de se decepcionar quando aqui chegar.
O custo de vida é alto
Acho estranho quando alguém aponta como uma decepção o fato do custo de vida em Toronto ser alto, justamente porque esse é um dos assuntos mais comentados em blogs e canais de YouTube. Já vi vários posts sobre os custos de vida daqui e de Vancouver, as cidades mais caras do Canadá. Sim, é caro morar em Toronto. Isto não quer dizer que não há opções mais em conta. Mas há um trade-off: você vai ter que abrir mão de morar perto de metrô se quiser pagar um aluguel mais barato. No entanto, isso tem contrapartida: se você resolver comprar um carro, sabia que o seguro é mais caro quando você mora longe das estações de metrô? Então: tudo tem prós e contras.
A infraestrutura de Toronto é ruim
Puxa… como querer que a infraestrutura de uma região com mais de 6 milhões de habitantes seja perfeita? Embora eu ache que há muito a melhorar por aqui, não posso dizer que a infraestrutura seja “ruim”. E o bom é que aqui a gente vê que as coisas estão sendo planejadas e colocadas em execução. Há vários projetos de ampliação da rede pública de transporte que estão em fases de planejamento, projeto, aprovação e construção. A obra de ampliação para o lado oeste da cidade (Toronto-York Spadina Subway Extension) está com conclusão prevista o final de 2017. Ou seja: há problemas de infraestrutura sim, mas há também muita coisa sendo feita para torná-la mais adequada ao crescimento da região.
Expectativa x Realidade
No final, percebo que as principais causas das “decepções” de algumas pessoas em relação ao Canadá são as grandes expectativas que estas mesmas pessoas criam em relação ao que terão por aqui. É preciso pesquisar muito antes de vir. É preciso procurar muita informação sobre o lado negativo, ruim, difícil de ser um imigrante. É importante se avaliar como pessoa, saber quais são seus desejos, suas necessidades. É importante pesquisar também sobre o que vai encontrar por aqui e balizar isso com tudo o que você deseja. E tudo isso significa estudar, estudar e estudar. Estudar o país, a cultura, o idioma. Estudar tudo que se relacionar a Canadá (ou a qualquer país para o qual você deseje emigrar). Assim, acredito que seja possível minimizar as chances de se decepcionar. Nenhum país é perfeito. Todos têm problemas. Resta saber se os problemas e dificuldades que você vai encontrar vão compensar as coisas boas resultantes desta sua escolha.
Se você que me lê já mora ou morou fora, conte-nos quais são suas experiências. E se ainda pretende morar, conte-nos o que espera encontrar e como está se preparando para sua vinda. Seus comentários são sempre muito bem-vindos!
[Update: as informações referentes aos direitos dos estudantes internacionais foram atualizadas, para corrigir algumas imprecisões apontadas pela Gisele no Canadá Agora do Facebook. Obrigada, Gisele!]
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