Porque negócios brasileiros não prosperam
Pode parecer estranho pra um cara que tem um blog, faz vídeos e tem um podcast, mas eu não sou o cara mais social do mundo. Em poucas palavras, eu sou um nerd introspectivo. Não é a toa que acabei virando programador. Mas isso não quer dizer que eu não gosto de fazer parte de uma comunidade.
Recentemente a CBC passou a exibir uma série chamada “Kim’s Convenience”. Ela é sobre uma família de imigrantes coreanos que tem uma loja de conveniência em Toronto e cujos filhos cresceram no Canadá. Assistir aos episódios é lembrar de como foi a minha infância.
Eu cresci no meio da comunidade japonesa. Se você não está familiarizado com a ideia, isso significa basicamente conviver o ano inteiro entre japoneses e descendentes. Você vai parar em aula de japonês, joga yakkyu, karaoke, undokai e todos os tipos de matsuri possíveis. Nossas mães acabam nos colocando nas mesmas escolas, fazemos natação nos mesmos lugares, tiramos férias com as mesmas famílias, etc, etc. Óbvio. Com toda essa rotina em comum muitos dos seus amigos acabam sendo outros “japas”. No fim, você acaba sendo parte de uma grande família.
Morando no Canadá, eu fiz amizade com pessoas de várias outras origens: chineses, malaios, indianos, russos, coreanos, franceses, italianos, alemães, cubanos. Até mesmo canadenses! Ha ha! Eu acabei descobrindo que não tinha sido o único crescendo assim. Muitas dessas pessoas tiveram uma criação parecida com a minha, crescendo no meio da comunidade, empurrados pelos pais quando você só queria sair pra brincar com seus amigos ou ser mais “normal”.
Mas e os brasileiros?
É interessante notar que o brasileiro não tem o hábito de viver em comunidades de brasileiros e muitos consideram isso um ponto positivo. Eu já ouvi de vários canadenses que uma das razões deles gostarem de brasileiros é porque “eles não formam guetos”. Por razões históricas, o brasileiro realmente tem uma facilidade enorme de se integrar com outras culturas. Afinal de contas, quem cresceu no Brasil sabe o que é esse caldeirão de gente de todo lugar.
Nelson Rodrigues dizia que o brasileiro só é solidário no câncer. A analogia se encaixa bem num contexto mais genérico. Realmente é muito difícil não ver uma grande mobilização em prol de alguém em uma condição mais grave de doença. Mas sinceramente, isso não é exclusividade. O canadense é tão ou talvez até mais solidário que o brasileiro e não precisa ter uma situação crítica.
Eu conheço várias dezenas de brasileiros que moram no Canadá, Estados Unidos, Japão e várias outras partes do mundo que decidiram se enveredar com seus próprios negócios. Alguns abriram um mercado, um café, uma empresa de seguros, são consultores financeiros, etc. Todas essas pessoas tem uma crítica em comum: se dependessem da comunidade brasileira eles já teriam fechado (e vários fecharam mesmo).
Por alguma razão bizarra o brasileiro não prestigia outros brasileiros.
É como se o fato de ser brasileiro concedesse algum tipo de privilégio instantâneo para os clientes e por causa disso eles merecessem um tipo de atendimento especial. A realidade é exatamente o inverso! As pessoas deveriam ser extremamente gratas em terem alguém que fala seu idioma, que conhece sua cultura e que se aplica em trazer um serviço para a sua comunidade.
Obviamente que existe o fator do mercado favorecer ou não o negócio e nem todo mundo ser capaz de mantê-lo funcionando, mas a falta do devido apoio também é (e como) extremamente desmotivador, especialmente quando isso envolve um grupo do qual você faz parte e convive.
Enfim. suporte brasileiros da sua comunidade sempre que possível. Mas se você realmente não tem nada de bom pra dizer, não diga nada.