Salut, salut!
Você que sempre navega pelo mundão da internet, pelos milhões de blogs, posts no Facebook, canais no YouTube, etc, etc, etc, já deve ter caído, mesmo que por acaso, em algum assunto de pessoas que não deram certo no exterior. Pessoas que contaram com vários problemas e entre eles a adaptação e a integração em um novo país.
Mas será que já paramos pra pensar no outro lado? – Que lado? – Esse que está neste post…
Antes de continuar, leia com atenção o trecho abaixo:
Aos que já conhecem meu blog e, principalmente, àqueles que me conhecem pessoalmente, sabem que não sou de colocar opiniões. Meus posts são para informar e sempre deixo o mais neutro possível, assim cada leitor pode pesquisar e tirar suas próprias conclusões.
Porém, existem alguns assuntos no qual não há como deixar a opinião de lado. É por isso que criei uma categoria separada para isso no blog. Assim não misturamos as coisas. Ainda assim, quero deixar bem claro que se trata da MINHA OPINIÃO. Ela pode não ser igual a de outras pessoas e nem precisa. É dessa forma que criamos discussões saudáveis.
Portanto, assim como estou colocando minha opinião publicamente no blog, de forma respeitosa, espero que cada leitor faça o mesmo, se achar que deve comentar. Eu aceito todo tipo de comentário, crítica e outras opiniões, mas sejamos respeitosos na hora de discutir. Lembre-se que a internet é um local público. Eu não irei apagar os comentários, então fique ciente que a falta de respeito será vista por todos. 😉
Dito isso… Vou falar um pouquinho sobre minha pessoa:
Moro há 4 anos no Canada, destes, todos no Québec (província) e desde novembro de 2016 fazendo indas e vindas de Montréal à Québec (cidade), pois trabalho na cidade de Montréal, mas tenho minha casa em Québec.
O Canada, como todos sabem, é considerado um ótimo país para se viver. Um lugar onde as pessoas respeitam as diferenças, crenças, religiões e, até mesmo, ideologias. Esse é aquele respeito que a gente sempre ouve muito falar quando é pequeno. Respeitar o próximo, cada indivíduo, para ser respeitado. Então vamos à primeira atitude:
1. “A opinião é minha e falo quando quiser!”
Muitos brasileiros aprendem desde pequeno que devemos ter “liberdade de expressão”. O que não aprendemos é que existe uma grande diferença entre “liberdade de expressão” e “opinião”. Pausa para o português…
“Opinião pessoal” é pleonasmo, já que toda opinião é sempre pessoal.
Vamos tentar imaginar uma situação típica:
- Você está numa mesa de bar com os amigos. Homens, mulheres, todas as idades, pai de família, etc;
- Então passa uma moça, que nenhuma pessoa que está nessa mesa conhece;
- Ela está usando uma blusa bem decotada e uma saia bem curta;
- Todos na mesa reparam, afinal, não há como não reparar;
- Agora, pense consigo mesmo qual seria a reação das pessoas na mesa;
- Não vale mentir, afinal, se fizer isso, estará mentindo pra você mesmo!
Indiferente da sua resposta. Se ela continha alguma opinião, pronto! Você acabou de passar pelo primeiro problema de integração no exterior. Pois é. No Canada em geral, colocar opiniões sobre outra pessoa quando ela não é solicitada é abrir a porta para ouvir um: ninguém perguntou o que você acha.
Pode até parecer estranho, as vezes até um pouco de frieza (como muitos acham), mas é a pura verdade. Opinião só deve ser dada quando é solicitada. Quando ninguém perguntou, é como se você tivesse subido na mesa do bar e dito: eu acho tal coisa!!! Acredito que ninguém faça isso. Então por que dar a opinião que ninguém perguntou?
Isso também vale para grupos no WhatsApp, Facebook, Telegram, etc. Por favor, não use como desculpa o famoso “Se não quiser ver é só não abrir/ler/assistir”. Não! Muitos grupos tem um propósito, um foco e um assunto. Respeite-o. Imagina se todos saírem postando o que quiser e falar pra quem não quiser é só “passar reto”. É a mesma história da mesa de bar. Alguém sobe na mesa e diz “vou dar minha opinião, quem não quiser ouvir tape os ouvidos ou saia!” Eu duvido muito…
Nós brasileiros temos essa mania e isso faz com que os nativos se afastem. No Canada acontece isso. Não importa qual seja sua opinião, deixe para expor ela se alguém quiser ouvir, caso contrário, guarde ela com você e conte-a para o espelho do seu banheiro.
2. “Os incomodados que se mudem”
Essa eu tenho certeza que você já ouviu ao menos uma vez na vida! Se não ouviu, acho que você não é brasileiro! (Talvez tenha algo parecido no exterior, mas ainda não ouvi)
Não é questão de complexo de vira-lata, mas sim sobre um contexto de “a casa é minha, não gostou, vá embora”. Vai dizer que você não fica incomodado quando gringos falam o que acham do Brasil, principalmente quando são críticas! Basta relembrar o texto que um gringo fez sobre o Brasil e que recebeu vários comentários do tipo “os incomodados…” Algumas pessoas concordaram, mas a enxurrada de críticas foi ainda maior. Se você não leu, leia: Uma Carta Aberta ao Brasil. Essa é apenas uma delas, existem muitas outras.
Aí você chega num novo país, acha que tudo é paraíso, vai ao médico com aquela dorzinha de cabeça, fica 12h aguardando na urgência e pronto! Começa a criticar tudo! E como se não bastasse, você aproveita os Happy Hours (que deveriam ser happy) pra usar do primeiro item dessa lista.
Conclusão: nenhum nativo te convida mais para aqueles momentos felizes e você não entende o por quê.
Não é por nada não, mas será que não é pelo fato de você estar cuspindo no prato onde come? Huuuum… Vale a reflexão!
Obviamente que o paraíso não existe. Pelo menos não na terra ou onde conhecemos. Se ele existe após a morte, eu prefiro esperar ainda muuuuuito tempo pra saber, mas não vou ter como contar pra vocês como é lá. 😀 Problemas existem em qualquer lugar e eu entendo que a língua – ou os dedos – coça(m) pra criticar, mas que tal deixar para fazer isso de uma forma que sua crítica possa ser usada para algo? Participar de comissões de bairro já é alguma coisa.
Então, assim como você, brasileiro, vivendo no Brasil, não gosta de gringo criticando “sua casa”, não faça exatamente aquilo que você não gosta. Todos ficam felizes e a vida fica mais leve.
3. “Regras existem para serem quebradas” (oi?)
Aí o brasileiro, todo feliz, chega no Canada (ou outros lugares). Não está nem aí para as regras, afinal, no Brasil regra é exceção. Passa num mercadinho, compra uma cerveja e sai passeando por aí tomando ela.
De repente, um guarda pára ele, diz que é proibido beber na rua, pede pra jogar fora e aplica uma multinha de aproximadamente $270. Aí a pessoinha, não contente, vai no Facebook fazer textão e entre tantas linhas escritas uma delas é: “…por isso que viver aqui é tão chato! Nem beber na rua pode…” Como se isso fosse a única coisa que deixasse um lugar mais legal. Será que o pequeno gafanhoto pensou que talvez seja o motivo de não ter tanta baderna nas ruas? Mais uma reflexão!
Pois bem! Na grande maioria dos países que todos desejam imigrar essa é uma proibição normal. Ninguém deixa de ser feliz por isso, mas na nossa cabeça isso é um problema! Este é um pequeno exemplo. Existem muitos outros como:
- Depois de assinado um contrato de aluguel, ele não pode ser quebrado;
- Emergência médica é para EMERGÊNCIAS;
- Beber e dirigir é CRIME e não infração de trânsito;
- Não existir caixas e/ou filas “prioritárias” em lugar algum;
- Se juntar com outros brasileiros no almoço ou no escritório e ficar conversando em português, rindo alto, tomar uma “chamada” e depois usar do item 1 e 2 deste post pra dizer o porque tem que usar o item 3 e este item.
E pior! Sair do Brasil porque nada funciona, vir pro exterior onde as coisas funcionam e reclamar que elas funcionam. Vai entender né?
4. “No Brasil era assim/melhor”
Eu confesso que essa até eu acho meio bizarro! Rapaz, na boa? Se era assim e/ou melhor, porque saiu de lá? Com esse tipo de comparação/comentário, é bem provável que você caia no primeiro item desta lista e seu (ex) amigo gringo, com um sorriso no rosto e muita educação diga: “e porque não volta pra lá então?”.
Apple and Orange isolted on whiteLembram quando nossas mães diziam “fala o que quer, ouve o que não quer”? É esse o princípio. E mais uma vez, ninguém quer saber sua opinião. Se algo está errado, ao menos compare com sua vida atual. Quando saímos do nosso país para viver em outro (não estou falando de turismo), é importante lembrar que sua vida não se passa mais no país anterior e o que você viveu antes não importa. A não ser as experiências. Só que comparar situações atuais com situações do passado e de outro país não faz sentido.
Vai dizer que aquela sua viagem pra Miami, em que você achou as praias todas limpinhas, você não acabou soltando um comentário numa praia no Brasil e ouviu de um brasileiro: “então porque não muda pra lá?” É a mesma coisa.
Volto a dizer, não é que outros lugares são uma maravilha e que tudo funciona perfeitamente bem como se fosse o paraíso, mas se você resolveu mudar, muito provavelmente onde estava antes era no mínimo pior. Caso contrário, não se mudaria.
Uma situação curiosa de um brasileiro numa roda de happy hour:
– A comida no Brasil é muito melhor! Pô, o prato mais conhecido de vocês (Québec) é batata frita com molho tipo madeira e um queijo tipo coalho! – Verdade né? Então por que você não volta pro Brasil? Assim poderá comer tanto arroz e feijão quanto quiser e não precisa mais vir nos happy hours comer poutine e ficar reclamando. – disse o gringo com um sorriso no rosto.
Eu tive que rir da situação, mas no fundo eu senti um pouquinho de vergonha, porque fica parecendo que todos os brasileiros tem a mesma opinião. Depois olharam pra mim e perguntaram se eu também achava isso. Que coisa!
5. “Não tenho nenhum amigo daqui porque eles são fechados”
Olha, eu não vou dizer que em todos os lugares do mundo os nativos te recebem de braços abertos, mas pelo menos no Québec eles recebem sim. Dos brasileiros que tive o prazer de levar para passear ou para algum evento na cidade de Québec que o digam. Muitos depois ainda ficaram bastante impressionados, pois a imagem que tinham era de um povo fechado e difícil de fazer amigos.
Vamos lá. O princípio de uma amizade começa por…? Tic, tac, tic, tac… Isso! Por uma conversa! Se você disse um abraço, você começou errado. O brasileiro gosta bastante de abraçar, ficar encostando nas outras pessoas enquanto falam, mas no exterior nem sempre é assim e isso precisa ficar claro. Só que uma boa conversa é sempre uma porta de entrada para fazer novos amigos.
Aí vem a próxima pergunta: pra uma conversa aconteça, o que é preciso ter? Isso!!! Gestos!!! Gestos? Melhor ir pra Itália! Lá, se você amarrar as mãos de um italiano, ele fica mudo! Brincadeiras à parte… Precisa ter fluência no idioma nativo! Quando falamos fluência, falamos de fluir, como um rio. Uma conversa que flui, não necessariamente precisa ter domínio total do idioma. Ou você acha que o rio segue sempre o mesmo caminho pra continuar tendo fluência?
Você acha que não? Então faça o seguinte:
- Vá para um bar qualquer no Brasil;
- Sente numa cadeira no bar (não numa mesa);
- Puxe conversa com alguém em outro idioma que não o português;
- Veja se a conversa flui e se ela não fluir;
- Volte pra casa e reflita: Por quê essa pessoa não virou seu amigo?
Esse é o básico do básico para se conhecer pessoas. Não adianta sair por aí dizendo que québécois é fechado e que é difícil fazer amizade se você nem em happy hour do trabalho vai.
Eu já cheguei a ouvir de outro brasileiro:
– Eu não passei o ano novo com québécois porque eles só comem uns salgadinhos e tenho que ficar falando em francês! Já não chega ter que falar francês no trabalho e nas lojas e mercados, com certeza não quero fora desses lugares!
Será que essa pessoa se perguntou porque EU também não virei amigo dela? Se você respondeu mentalmente que é porque eu sou um chato, ótimo! Se pensar em escrever nos comentários, releia o item 1. 😉
Não é questão de ser chato, mas vamos e convenhamos né? A pessoa quer sair do Brasil e continuar falando em português? Vai pra Portugal, Angola ou outro país lusófono, mas não um lugar que fala outro idioma. Ou então faça o esforço mínimo para ter fluência no idioma nativo e pare de dizer que gringo é fechado! (Não generalizando ok? Tem gringo que é fechado mesmo, mas também tem brasileiro fechado.)
6. “Eu não vim morar fora pra trabalhar em sub-emprego”
Putz! Sério! Isso é muito feio de dizer sabia? De verdade! Já parou pra pensar que emprego é emprego? Trabalho é sempre um trabalho e sempre vai precisar de alguém pra fazer aquilo que talvez você não queira fazer.
mcdonalds-2014Trabalhar num McDonald’s é um emprego como qualquer outro! Assim como trabalhar fazendo faxina, como lixeiro ou outro emprego qualquer que venha a sua mente. No Brasil temos uma cultura de status e não de competência. É por isso que quando alguém sem condições passa num vestibular para uma federal vira notícia. Porque é raro falarmos de competências!
Não acredita? Então vamos lá. Já ouviu alguma vez, dos seus próprios pais: Não estuda pra ver, vai virar ajudante de pedreiro/gari/faxineiro! É como se esses empregos fossem uma punição ou algo ruim. Eu já ouvi dos meus pais! Hoje eu fico muito feliz de ter aprendido que um emprego é um emprego. Digno! Mas por muito tempo eu vivi com a cultura de que pra ser alguém na vida, precisa no mínimo virar gerente! Qual a lógica disso? Se eu tivesse uma empresa, eu preferiria mil vezes ter um ótimo faxineiro, feliz no que faz e fazendo bem feito do que a mesma pessoa fazendo um péssimo trabalho de gerente, infeliz, estressado e que não me dá resultado algum.
Por aqui, quando fico um pouco mais no escritório e passa o rapaz limpando as lixeira, ele sempre cumprimenta com um sorriso no rosto e as vezes pergunta: muito trabalho hoje né? E eu sempre respondo. Nem tem como não responder quando uma pessoa faz o trabalho dela com um sorriso no rosto.
Uma coisa interessante é que muita gente aqui começa trabalhando em qualquer coisa que não exija muita experiência. Seja no McDonald’s, num Starbucks ou limpando as mesas de uma praça de alimentação, todos começam por um emprego. Aquele que ajuda a pagar as contas, tomar uma cerveja no final de semana e até mesmo à pagar o doutorado que essa pessoa está fazendo!
Achou estranho um cara trabalhando no McDonald’s fazendo doutorado? Bom, então já sabe algo que deve mudar na sua opinião. Além disso, lembre de reler o item 1 para não se espantar e dizer: Como assim você faz doutorado e trabalha fazendo isso?! :-O
E por último, mas não menos importante…
7. “Está difícil porque não sou nativo, serei sempre um imigrante”
Nuossa! Essa é uma que me incomoda para ca-ra-le-Ô! Numa boa? Coloca na sua cabeça que ter conseguido imigrar para outro país já é uma vitória enorme! Se você conseguiu chegar até ali, é porque você já é importante para aquele lugar. Não importa o que seja.
Num ponto eu concordo! Sempre serei um imigrante. Essa é a parte mágica da coisa! Ser um imigrante não tem nada de ruim, pelo contrário, é maravilhoso! Quantas coisas você pode contar, acrescentar e aprender? Você pode ensinar seu idioma para os amigos interessados, contar como se faz um churrasco com picanha (não é pra dizer que o churrasco deles é ruim ok? Item 1! Item 1!!!).
A riqueza do imigrante não está em ser alguém importante ou virar um nativo, mas em tudo o que ele pode agregar na sociedade. Isso inclui a própria cultura dele. Senão não teria gringo querendo aprender a dançar forró, aprendendo português, perguntando os lugares bonitos do Brasil para conhecer, etc.
Ser imigrante vale a pena, mas você precisa aceitar isso. Aceitando e convivendo com essa “condição” você passa a ser mais natural e ver que as coisas funcionam sim pra você. Basta deixar de ser uma “vítima”.
– É, mas eu nunca vou ter um diploma daqui, nunca vou ter referências que eles tem e nem ser como eles!
E não vai mesmo! Não adianta achar que porque você pode ter a cidadania deste ou daquele país você deixa de ser imigrante que isso não vai acontecer. Aceite que dói menos! É engraçado, mas vejo muito mais brasileiros reclamando dessa condição do que os nativos que rodeiam ele. Vejo isso por mim mesmo. Meus amigos daqui gostam muito quando eu falo algo errado em francês. Não que seja certo, mas porque eles entendem meu esforço e acham isso muito bonito. Gostam que eu tenha sotaque (mesmo eu tendo pouco), gostam quando eu convido para um churrasco brasileiro e adoram conhecer novos brasileiros que eu já conheço.
bgc8qxpceaamwuEles não querem saber se você é imigrante. O que eles querem é que você se esforce para uma integração e isso começa pelo idioma (dúvidas? Volte para o item 5). Depois disso, aceite a poutine! Coloque bacon, linguiça, o que quiser, mas aceite! Quando fizer isso, garanto que ninguém vai se incomodar se você convidar eles pra experimentarem uma feijoada! Sem criticar a poutine ok?
Bom, é isso! Eu precisava expôr um pouco minha opinião. Como isso é um blog onde as pessoas é quem acessam, então elas estão dispostas a ler uma opinião. Portanto eu não estou entrando no item 1. 🙂
Mais uma vez, eu vou ler cada comentário com muita alegria, só não vale desrespeitar. Nem a mim e nem os coleguinhas!
Abraços!