Pessoas sem abrigo no Canadá
Aqui não vemos crianças vivendo nas ruas como vemos no Brasil, mas vemos uma boa quantidade de mendigos, sem-abrigo com problemas mentais e sem-teto com sérios problemas de drogas nas ruas das grandes cidades. A quantidade é impressionante. Todos fingem não ver, mas eles estão presentes principalmente nos pontos turísticos e nos metrôs. Eles pedem dinheiro para comer,estão sempre perto dos McDonald’s do centro, muitos falam sozinhos e apresentam sintomas de esquizofrenia.
No Canadá existem cerca de 200 mil pessoas à cada ano que vivem por um curto ou longo período nas ruas, em refúgios ou de favor na casa de um conhecido. São em torno de 30 mil pessoas sem-abrigo por noite. A cidade de Montreal conta com mais de 3 mil sem-tetos por noite. Apesar de existirem vários centros que os acolhem, acontece com frequência que eles não tenham a capacidade para receber tanta gente.
Os refúgios tentam acomodar o máximo de pessoas possíveis, colando colchoes no chão e ultrapassando a capacidade máxima. Durante os fins de semana eles acabam acolhendo 400% da sua capacidade.
Uma dura realidade
Os dados em relação aos andarilhos não são fixos e podem variar muito de uma noite à outra. 76% são homens, 44% nascidos em Montreal, 10% autóctones, 6% são antigos combatentes, 16% imigrantes. Desses, 76% têm problemas mentais ou psicológicos muitas vezes após um trauma.
As pessoas em geral são bastante tolerantes com os mendigos, principalmente no inverno. Quando a STM pôs grades em torno da estação de metro Berri-UQAM no centro de Montreal a população se revoltou . Excluir não é a solução, principalmente durante o inverno.
Essas pessoas geralmente tiveram uma vida extremamente difícil no passado. Elas perderam o controle de suas vidas e não têm ninguém com quem contar. Muitos não têm mais documentos. No Québec, 13 mil pessoas são representadas pela curadoria pública.
A grande maioria dos andarilhos são inofensivos. Porém, pessoas sob efeito de drogas podem se tornar perigosas, assim como pessoas que sofrem de alucinações. Um sem-teto altamente intoxicado já correu atrás de mim em um metrô durante o dia, no meio de muitas pessoas e ninguém fez nada para me ajudar. Todos fingiam não ver.
A verdade é que eles são mais agredidos do que agridem. Pessoas que vivem na rua são com frequência humilhados, ridicularizados e muitas vezes agredidos e violentados.
Ações do Governo
O Governo Trudeau anunciou no ano passado um aumento de 17 milhões em 2 anos no investimento da luta contra a itinerância. O objetivo principal é prevenir esta situação investindo e dialogando com organismos de integração aos imigrantes, que trabalham com a população autóctone e abrigos sociais. A estrategia é procurar identificar um conhecido que possa se tornar um protetor do sem-abrigo.
A verdade é que à curto prazo não notaremos uma grande diferença. Os organismos fazem o possível mas eles não conseguem ofereceer os seus serviços à todos que necessitam. É o caso do CSSS Jeane Mance que oferece alojamento subvencionado e serviço de saúde para pessoas com graves problemas de saúde mental como esquizofrenia. A capacidade deles é mínima comparada a quantidade de pessoas que precisam deste tipo de serviço. Em um período de 5 anos eles puderam acolher 80 pessoas.
Em 2014 anunciaram um projeto de habitação e serviço de saúde para os sem-abrigo com problemas mentais ou toxicomaníacos. O projeto, chamado Housing First/ Logement d’abord, está sendo implantado em várias cidades. Já foram injetados 110 milhões, estimado em $600 milhões em 5 anos.
Necessidade de acompanhamento
Eu sinceramente acredito que a solução seria de haver um melhor controle dos itinerantes com problemas mentais. Eu vejo que eles são deixados a eles mesmo. Deveria haver um controle diário nos metrôs. Não para expulsá-los mas para cuidar dos que necessitam ser desintoxicados ou que precisam de medicação. Deveria ter uma equipe de enfermeiros e de agentes sociais que cuidasse disso. Ao invés de investir em centros onde eles possam consumir drogas ”em segurança”, deveriam investir centros de desintoxicação obrigatório, com exames e controle com frequência. Para receber o cheque de ajuda social deveria apresentar o carnê mostrando que a desintoxicação esta em dia, ou que tem tomado a medição regularmente. Caso contrário deveriam residir em um centro de reabilitação.
São 50 mil por ano neste país que já tiveram por pelo menos um período vivendo de favor. Eu já fiz parte desta estatística por um curto período no primeiro ano que cheguei aqui e já ajudei 2 pessoas que ficaram sem teto de um dia para o outro. Já vi varias outras brasileiras que ficaram sem abrigo por curto período, seja para fugir da violência conjugal, porque foram enganadas e ficaram sem dinheiro ou brigaram com quem dividiam o apartamento.
Situações inesperadas acontecem e como não temos nossa família por perto sempre é bom estabelecer contatos e encontrar pessoas de confiança no caso de você não ter onde ir.
Organismos
Para as moças eu indico o organismo “Y des femmes”. Eles possuem abrigos sociais com preço baixo e vários programas para ajudar jovens que vêm do exterior e que precisam de abrigo alimentação e encontrar emprego. Eles só aceitam mulheres que não consumam drogas e que tenham uma boa autonomia.
Existem também o Maison du père, um incrível organismo de ajuda aos homens sem abrigo no centro de Montreal. Possui refugio noturno, assistência de saúde, programa de integração ao meio de trabalho, programa de escolarização, cabeleireiro, oferece ajuda para fazer os impostos, vacinação, serviços jurídicos, abrigo para idosos, doação de roupas. A maioria dos itinerantes dormem gratuitamente, tomam o café da manhã e devem deixar o espaço pela manha. 20 dentre eles podem trabalhar voluntariamente na limpeza e organização do espaço em troca de um almoço.
Claro que eles não têm condições de receber todos, mas o trabalho deles faz uma enorme diferença. É possível ajudá-los fazendo doações de comida, dinheiro ou roupas. No ano passado mais de 250 mil roupas foram doadas aos homens que frequentam este local. A Maison du père está sempre em busca de voluntários. Quem tiver interesse entre em contato, pode ser uma boa para as pessoas de bom coração e que precisam obter uma primeira experiencia no Canadá.
Referências
- 30.000 pessoas sem abrigo no Canadá todas as noites
- Refúgios para mulheres sem lugares
- O “logement d’abord” (Housing First) cada vez mais criticados
- 3.000 sem abrigo em Montréal
- Novas grades nos metrôs na mira dos sem-abrigo
- Sim, nós podemos acabar com os desabrigados
Onde Ouvir o PoDeixar
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